Escola de Bicicleta

mobilidade & recreio

Aulas de bicicleta em Lisboa, dos 6 aos 66!

A nossa última aula de 2015, antes da pausa de fim-de-ano, foi no dia 20 de Dezembro, com uma turma de Nível 1, e teve este aspecto:

Última aula de 2015 das turmas de Nível 1A nossa última aula com as turmas de Nível 1, em 2015, foi este último domingo. A banda sonora foi natalícia e não dividimos o campo em duas partes, como é costume, para deixarmos os alunos andarem mais “à larga”. Não perca mais tempo e inscreva-se já nas aulas para começar em Janeiro – porquê procrastinar as coisas boas? 😉 http://escola.cenasapedal.com

Posted by Escola de Bicicleta da Cenas a Pedal on Saturday, December 26, 2015

 

Não perca mais tempo e inscreva-se já nas aulas para começar em Janeiro, enquanto ainda há vagas – porquê procrastinar as coisas boas?

O nosso site tem muita informação, arrumadinha por secções para fácil digestão: http://escola.cenasapedal.com Mas uma leitura obrigatória para todos os prospectivos alunos das aulas de bicicleta é o Guia do Aluno 2015-2016, disponível aqui. Depois, a inscrição pode ser feita online, para sua comodidade, aqui. Também temos vouchers para oferta!

Estas aulas são para crianças a partir dos 6 anos e adultos até aos 66 anos! E no Nível 1 as bicicletas são facultadas pela escola, não tem que se preocupar com o equipamento.

Inscreva-se já e comece as aulas no início do ano, para que daqui a 365 dias possa olhar para trás e afirmar:

“2016, o ano em que aprendi a andar de bicicleta!!”

11 formas de cair de bicicleta

Em países onde há um grande uso da bicicleta no quotidiano, há muita gente a ser admitida nos hospitais devido a quedas e colisões de bicicleta a solo, o que tem começado a chamar a atenção para se estudar as causas disto. Na Holanda, por exemplo, estima-se que 90 % das lesões sofridas por utilizadores de bicicleta e 25 % das fatalidades neste grupo, resultam de quedas e colisões de bicicleta que não envolvem veículos motorizados.

Normalmente estes incidentes a solo subdividem-se em quedas e colisões:

  1. relacionados com a infraestrutura
  2. relacionados com o condutor da bicicleta; perda de controlo
  3. relacionados com falha mecânica da bicicleta

É por isto que nas aulas de condução que damos na Escola de Bicicleta da Cenas a Pedal temos o Nível 1 – adaptação à bicicleta, e o Nível 2 – adaptação ao meio. Para conseguirmos evitar quedas, primeiro, e conseguir que as que ocorrem não sejam graves, é importante saber controlar a bicicleta mas também é importante saber reconhecer os riscos das infraestruturas e minimizá-los com estratégias adequadas. A ideia das aulas de bicicleta de regularidade, ao longo do ano, serve também um propósito fundamental que é o do treino de regularidade, algo que faz a diferença na probabilidade de uma pessoa se envolver numa queda ou colisão, segundo os estudos (como este).

Andar de bicicleta, para transporte ou lazer é uma actividade com imensos benefícios e vantagens para quem o faz, os riscos associados existem mas podem ser facilmente minimizados, basta estudar e praticar! Nós estamos cá para facilitar isso mesmo.

Agora, aqui fica um apanhado simples de algumas formas mais populares de cair de bicicleta.

1. Pedalar numa curva 

Ao inclinar a bicicleta numa curva, o pedal do lado de dentro da curva fica mais perto do chão e há o risco de raspar nele, o que pode causar um sobressalto que leve à perda de controlo da bicicleta.

2. Pedalar bem encostadinho ao lancil do passeio

Pedalar junto a um lancil alto torna possível batermos com o pedal no mesmo, o que afecta a trajectória e equilíbrio da bicicleta, podendo levar à perda de controlo da mesma. Quem diz lancil diz, pedras, delimitadores e barreiras rasteiros diversos.

3. Circular próximo de lancis 

Tudo o que seja um obstáculo longitudinal na faixa de rodagem pode causar uma queda do tipo “diversion“. Os baixinhos são os piores porque não nos apercebemos sequer deles:

Mas os grandes, que sabemos perfeitamente que estão lá, também nos podem fazer cair se circularmos tão perto que não deixemos espaço para pequenas oscilações:

O ciclista do vídeo anterior teve sorte, ia relativamente devagar e teve bons reflexos. O mesmo não aconteceu no caso seguinte:

4. Passar por cima de poças de água à confiança

Uma poça de água pode esconder facilmente a configuração do buraco onde a água se acumulou. Às vezes é só uma concavidade no piso, outras vezes é mesmo um buraco. De notar que no inverno surgem buracos de um dia para o outro.

Um buraco (ainda mais com o atrito adicional da água nele acumulada) pode parar subitamente a roda da frente e atirar-nos por cima do guiador, como neste exemplo:

5. Circular próximo de muros, vedações ou sebes altas

Este é um fenómeno curioso, que já conhecemos bem, mas cuja base científica ainda não investigámos a fundo, embora tudo indique que tenha a ver com a nossa visão periférica e o seu papel no equilíbrio e na navegação espacial. O que sabemos é que quando as pessoas circulam próximo de objectos contínuos altos, a dada altura têm o reflexo de se agarrarem aos mesmos, largando o guiador da bicicleta. Dependendo da velocidade, de como se agarram, etc, isto pode dar direito a algumas mazelas, embora normalmente não seja nada de especial.

Mas o grande risco não é o reflexo que descrevi atrás, mas sim a possibilidade de o guiador da bicicleta tocar nesse muro/sebe/etc, ou mesmo pilarete alto, o que causa uma queda imediata. Isto é algo que também acontece em passeios de grupo, quando nos chegamos demasiado perto, de lado, de outro ciclista (ver este exemplo).

6. Curvar demasiado e/ou travar sobre piso sem aderência

A tinta das passadeiras e das outras marcações rodoviárias, as tampas de esgoto, os carris de eléctrico, o asfalto com óleo, alguns tipos de pavimento (pedra da calçada, e outras, etc) ou com gravilha, areia, ou folhas, são coisas onde os pneus das bicicletas facilmente escorregam, principalmente em dias de chuva!

Folhas…

Tampas metálicas…

Pavimentos escorregadios…

7. Transpôr carris de eléctrico (quase) longitudinalmente

Os carris de eléctrico podem causar quedas ao prender a roda da frente, o que nos lança imediatamente ao chão. Mas mesmo sem a roda entrar no carril, se este estiver ligeiramente sobreelevado do pavimento, funciona como um lancil, e causa uma queda à mesma se nos aproximarmos dele ou o transpusermos quase longitudinalmente.

Ou assim.

8. Circular na zona das sarjetas

Circular encostado à direita tem imensos custos em termos de segurança, uns são mais fáceis de compreender que outros, mas este parece-me bastante óbvio: na berma das estradas é onde geralmente se colocam as sarjetas, e muitas vezes as grades das mesmas são longitudinais e capazes de engolir a roda dianteira da bicicleta, o que causa uma queda por paragem súbita desta, e a inércia atira o ciclista por cima do guiador.

Quem diz sarjetas diz qualquer defeito ou obstáculo no pavimento que possa afectar o movimento da roda dianteira, nomeadamente buracos, fissuras, cristas, etc.

9. Passar por cima de marcadores rodoviários

Passar por cima do que por cá se chamam muitas vezes “olhos-de-gato”, pode facilmente causar uma queda, principalmente se não estivermos à espera desse obstáculo, e se não tivermos muito bons reflexos e controlo da bicicleta:

Há n tipos de marcadores elevados (exemplos aqui), e geralmente constituem um perigo para utilizadores de bicicletas, ao afectar a estabilidade das mesmas.

10. Subir lancis sem levantar a roda da frente no momento certo

Um lancil (ou qualquer outro objecto imóvel no caminho) alto o suficiente, quando encarado de frente, muitas vezes causa uma queda imediata – pára a roda dianteira e atira o ciclista por cima do guiador. A única forma de isto não acontecer é o condutor da bicicleta fazer a roda dianteira saltar por cima desse lancil ou obstáculo no momento certo – nem antes, nem depois. O ciclista do vídeo abaixo fez a roda saltar, mas cedo demais:

11. Deixar peças de roupa prenderem-se nas rodas

Tirar o casaco em andamento, por exemplo, pode levar a uma situação destas. Quem diz casacos diz usar saias ou casacos ou cachecóis ou lenços compridos. Transportar sacos de compras no guiador também causa quedas deste género, quando os itens no saco chegam à roda e a bloqueiam.


Uma amostra de coisas para não fazer, que tivémos a sorte de encontrar registadas em vídeo. Nas nossas aulas de Nível 2 temos diversas oportunidades para demonstrar e treinar com os nossos alunos o que fazer em vez disto.

Na Escola de Bicicleta da Cenas a Pedal ensinamos os nossos alunos a evitar quedas como as 11 aqui referidas. Os alunos aprendem a:

  1. reconhecer riscos
  2. aplicar estratégias adequadas para evitar ou reduzir esses riscos
  3. controlar com sucesso a bicicleta em situações complicadas

Os conceitos de bolha de segurança, da importância de olhar e de ver, são conceitos patentes n’as 4 regras de uma condução segura e que são instilados nos nossos alunos desde a primeira aula, para que a probabilidade de algum dia haver um vídeo destes com eles como protagonistas, seja mais reduzida. 😉

Ver mais, ver cedo

Este artigo visa ajudar a compreender como aplicar as 4 regras de uma condução segura, descritas neste outro texto.

Já aqui falámos da importância de OLHAR: em frente, para trás, por cima do ombro, e como e quando o fazer durante a condução. Ora, o propósito de olhar é VER, ver – atempadamente – tudo o que possa interferir com a nossa trajectória, para que nada nem ninguém nos apanhe totalmente de surpresa.

Ver um buraco, um carro ou um peão quando já estamos em cima deles é inútil. Temos que saber que elementos devemos conseguir – a todo o momento – ver, mas também qual a antecedência com que precisamos de os ver para termos tempo de ajustar a nossa posição, rota e/ou velocidade para evitar quedas e colisões. Isso varia com a nossa velocidade, com a bicicleta, a carga, e com todo o contexto à nossa volta (ângulos de visibilidade, volume e velocidade do restante tráfego, condições do pavimento, etc).

Queremos, por isso, ver mais [coisas relevantes], e ver cedo. Todo o condutor tem que, continuamente, fazer um ‘scan‘ ao ambiente à sua volta:

Traduzido/adaptado do livro "Urban Bikers Tips & Tricks", de Dave Glowacz

Traduzido/adaptado do livro “Urban Bikers Tips & Tricks”, de Dave Glowacz

 

A posição da bicicleta na via é algo que afecta cada uma d’As 4 regras de uma condução segura, a começar pela nossa capacidade de ver, pois a posição [lateral] na via determina o nosso ponto de vista e, logo, a nossa perspectiva.

A posição na via é, por isso, um dos factores mais críticos na condução de bicicleta, e deve ser adoptada de forma consciente e deliberada.

A capacidade de ver maior área e mais cedo é ilustrada nas imagens comparativas abaixo.

Com a perspectiva da imagem de baixo consegue ver-se algum do espaço entre os carros estacionados, mais cedo – se houver pessoas a surgir desses espaços,  para atravessar ou simplesmente para aceder aos automóveis pelo seu lado esquerdo, nós conseguimos vê-las a tempo. Se alguém se preparar para abrir a porta do carro do lado esquerdo – potencialmente interferindo na nossa trajectória, nós também conseguimos detectar isso mais cedo.

Posição desviada para a direita

Posição desviada para a direita

Posição centrada na via

Posição centrada na via

A mesma situação é ilustrada nos dois pares de imagens abaixo, que incluem dois factores agravantes: carrinhas altas, e uma passadeira.

Posição desviada para a direita

Posição desviada para a direita

Posição centrada na via

Posição centrada na via

Posição centrada na via

Posição centrada na via

Posição desviada para a direita

Posição desviada para a direita

O par de imagens abaixo mostra uma situação com duas variações também agravantes: carros estacionados em espinha (tapam mais as pessoas que surjam por entre eles), e uma rua curva (o que implica que, circulando desviados para a direita deixamos de ver uma parte da faixa de rodagem poucos metros à frente):

Posição desviada para a direita

Posição desviada para a direita

Posição centrada na via

Posição centrada na via

A outra vantagem, em termos de visibilidade, que circular mais centrado na via de trânsito oferece, é que nos permite ver o que se passa também à esquerda dos carros à frente, algo que não é possível quando circulamos desviados para a direita – em muitas situações, a melhor posição na via é a mesma de todos os outros condutores, mesmo de automóveis.

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É importante recordar: se nós não vemos os olhos dos outros condutores (directamente através de espelhos retrovisores), eles também não nos vêem, logo, falhar ver pode implicar também falhar ser visto. É assim que acontecem colisões como a da ilustração abaixo, chamada de “left cross” ou atravessamento à esquerda:

Fonte: Commute Orlando

Fonte: Commute Orlando

Um exemplo real pode ser analisado neste vídeo (é do Reino Unido, por isso temos que inverter a situação para a compreender no contexto português).

Mas não é só a posição lateral na via que importa, temos que garantir que deixamos espaço suficiente entre nós e o carro da frente para conseguirmos ver o chão que vamos pisar logo a seguir (quanto maior a velocidade, mais importante isto é). Deixar uma distância de segurança do veículo da frente é uma regra básica do Código da Estrada, e é particularmente importante para um veículo de duas rodas (há irregularidades no pavimento que são irrelevantes para um automóvel mas que podem mandar uma bicicleta ao chão).

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O condutor desta bicicleta não está a deixar uma distância de segurança adequada do carro à sua frente

À noite, as luzes não são opcionais. Há que não cair no erro de pensar que basta uma luz para se ser visto. A nossa capacidade de fazer um scan ao caminho fica comprometida se não tivermos uma boa luz dianteira na bicicleta, capaz de iluminar o chão (e obstáculos, incluindo peões que, ao contrário dos veículos, não estão equipados com luzes próprias…). 
Supernova E3 E-bike

A maior parte das quedas sofridas pelos ciclistas são a solo, e não ver o caminho é um factor importante na causa dessas quedas.

RESUMINDO:

» Faz continuamente um ‘scan’ ao que está à tua frente, mas também dos lados e até atrás, para identificares potenciais riscos a tempo de os evitares.

» Garante sempre que te posicionas de forma a maximizar a tua capacidade de ver obstáculos no pavimento, e peões e veículos em potencial rota de colisão contigo – lembra-te que quanto maior a tua velocidade, mais longe precisas de conseguir ver (porque chegas lá mais depressa, e porque se caíres a alta velocidade magoas-te mais).

» À noite, ou sempre que as condições climatéricas o exijam, usa uma boa luz dianteira, contínua, capaz de iluminar bem o chão, numa distância útil.

E, no processo, lembra-te sempre dos 10 mandamentos sociais da estrada.

Os 10 mandamentos sociais da estrada (e não só)

Há uns tempos, enquanto preparava mais uma palestra sobre este tema da condução de bicicleta, ocorreu-me que as “4 regras de uma condução segura” não eram suficientes. Para compreender, discutir e orientar o nosso comportamento na estrada, precisamos de perceber, e definir, o conjunto de VALORES que orientam a nossa interacção com os outros utentes da via pública.

Valores são restrições múltiplas, heterárquicas, dinâmicas e legitimadoras sobre acções.

Encontrei esta definição aqui, e achei-a bastante clara.

As leis do Código da Estrada derivam, tendencialmente, de uma combinação de princípios técnicos, científicos, de segurança, ou seja, com vista a evitar colisões, e de valores sociais cuja matriz se pode encontrar na Constituição da República Portuguesa, e na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Estes são os 10 MANDAMENTOS SOCIAIS vigentes na nossa sociedade no geral, e que se aplicam igualmente nas interações no trânsito:

  1. o primeiro a chegar é o primeiro a usar
  2. a minha segurança é tão importante quanto a tua
  3. a minha conveniência é tão importante quanto a tua
  4. a minha segurança é mais importante do que a tua conveniência
  5. a tua segurança é mais importante do que a minha conveniência
  6. só eu decido se sacrifico a minha segurança pela minha conveniência
  7. só eu decido se sacrifico a minha conveniência pela tua
  8. podes esperar ou pedir que eu aumente a tua conveniência quando tal não reduza, de forma relevante, a minha – mas não mo podes exigir
  9. só os tribunais têm legitimidade para julgar e condenar pessoas, aos cidadãos é permitida apenas a auto-defesa
  10. o mais forte* é responsável pela segurança do mais fraco

* “forte” aqui significa aquele que detém o objecto ou o poder potencialmente mais letal, e “fraco” aquele que está [mais] exposto e vulnerável a esse perigo

Os conflitos / hostilidades do quotidiano surgem quando alguém desrespeita algum destes valores, de forma consciente ou inconsciente.

Compreender o significado e a aplicação destes valores ao contexto rodoviário é fundamental para 1) sermos melhores condutores e 2) lidarmos melhor com maus condutores.