O risco associado a uma eventual queda ou colisão é uma função da probabilidade da mesma acontecer e, esta acontecendo, da gravidade das suas consequências. De forma simples:

Risco = [probabilidade de acontecer] x [gravidade das consequências]

Firefighters holding safety net --- Image by © Anthony Redpath/Corbis

Firefighters holding safety net — Image by © Anthony Redpath/Corbis

Se eu tiver que saltar, ou algo me fizer cair, da varanda de um 5º andar as consequências serão letais. Mas eu posso adoptar medidas para reduzir a zero ou quase a probabilidade de eu me ver numa situação em que tenha que saltar, ou possa cair, de uma varanda do 5º andar, logo, o risco associado é residual. Ou então posso deixar de me preocupar com precauções para não me ver nessa situação e aceitar a possibilidade de vir a ter que saltar, ou cair, do 5º andar, mas antes colocar lá em baixo uma rede para me amparar a queda e reduzir de alguma forma as consequências da mesma. São ambas formas de reduzir o risco a que me exponho.

Aqui na escola, nas aulas de condução de bicicleta, treinamos os nossos alunos para reduzirem os riscos a que se expõem ao andar de bicicleta, focando-nos primordialmente na parte do “probabilidade de acontecer”, ou seja, desenvolvendo as competências necessárias para, antes de mais, evitar quedas e colisões, pois é a forma mais eficaz de reduzirmos o risco.

Contudo, as nossas chances podem ser melhoradas se além de adoptarmos comportamentos e estratégias que diminuem a probabilidade de uma queda ou colisão acontecer – primeira linha de defesa, adoptarmos também algumas medidas simples e acessíveis que minimizem as consequências de uma eventual queda ou colisão que não consigamos evitar – segunda linha de defesa.

Nas nossas aulas começamos por, logo no Nível 1, ensinar os alunos a assegurarem a todo o momento a sua “BOLHA DE SEGURANÇA“, um espaço em toda a sua volta que lhes permita:

1) tempo e espaço para passarem, oscilarem a sua trajectória, travarem ou se desviarem de obstáculos, sem colidirem com nada nem ninguém no processo, e

2) espaço desimpedido sobre o qual cair, caso uma queda seja inevitável.

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Bolha de segurança, tipo isto, mas maior. 🙂

Sendo que o tamanho mínimo desta bolha é uma função da nossa velocidade (e/ou da de quem, ou daquilo, que por nós passa): quanto maior a velocidade, maior a bolha.

Enquanto condutora de um bicicleta (ou de qualquer outro veículo) eu posso:

1) escolher a rota que me oferece a maior bolha possível, e adequada à minha velocidade

2) se a rota preferida não assegurar a bolha de segurança mínima para a velocidade a que circulo, e não havendo rotas alternativas, adequar a minha velocidade ao tamanho possível da minha bolha.

E quanto mais pobres forem as minhas competências básicas de controlo da bicicleta e condução, maior terá que ser a minha bolha, e/ou mais devagar deverei circular, para compensar a minha inabilidade em identificar e detectar riscos, minimizá-los, e reagir com sucesso a eles.

Porque é que é importante reservar espaço para cair?

Porque cair no chão é diferente de cair sobre um lancil, um pilarete, um banco de jardim, etc. As consequências da queda serão provavelmente significativamente piores no segundo caso.

Um exemplo real, aqui:

Isso leva-nos a uma terceira linha de defesa, que é: não transportar junto ao corpo objectos que, pela sua forma, volume, rigidez, e/ou localização, possam piorar as consequências de uma queda – como se transportássemos connosco um pilarete para depois cairmos sobre ele. 😉 Exemplos comuns para os condutores de bicicleta em contexto de transporte: chaves (ouch!), telemóveis, e cadeados:

What can go wrong? Bom, uma queda que poderia, de outra forma, não resultar em lesões de monta, pode resultar nisto, ou pior, se tivermos azar.

Mas não é só na cidade, em contextos recreativo e desportivo também se podem cometer lapsos destes, potencialmente com consequências desastrosas. Um exemplo do que acontece quando tudo corre mal é o do Eddy King, que numa queda de bicicleta em 2013, uma peça de uma bomba de ar que ele transportava na sua mochila de hidratação pressionou e lesionou-lhe a espinha dorsal, deixando-o paraplégico.

Por isso, é importante seleccionar criteriosamente os objectos que transportamos connosco junto ao corpo, seja em bolsos da roupa normal, seja pendurado de alguma forma, seja em bolsos dos jerseys, ou em mochilas. Manter a nossa bolha de segurança começa mesmo junto à pele.