Este cyclehack do travão de parqueamento para bicicletas melhorou imenso a nossa vida. Não é à toa que foi o usado para fazer o vídeo de apresentação da 1ª edição do CycleHack Global em Lisboa, em Junho do ano passado, na Maker Faire.
É por este exercício divertido de criatividade e partilha de experiências e de ideias – e descobertas! – que este movimento do CycleHack é tão positivo, e tão interessante. E é por isso que vamos lá estar batidos novamente este ano.
Este ano há nova leva de oradores, e nova oportunidade de inventar coisas giras que façam diferença na vida de quem opta por andar de bicicleta. ‘Bora daí? 🙂
Vamos assumir que decidi ir fazer rafting, como guia.
O que acontece se me lançar à água no insuflável sem primeiro ter aprendido como conduzir a embarcação em segurança? Se calhar isso não é absolutamente necessário, desde que use um colete salva-vidas e um capacete, estou segura, não? E não deve haver problema se eu não souber nadar, desde que tenha o colete salva-vidas e um seguro, está tudo OK, certo?
Não.
Para sermos capazes de tomar decisões acerca de segurança, temos que primeiro compreender a noção de risco.
De uma forma simplificada, esta é a equação do risco:
Risco [R] =probabilidade de acontecer [P] x severidade das consequências se acontecer [C]
A segurança activa actua na probabilidade, a segurança passiva actua nas consequências.
No que à utilização da bicicleta diz respeito, a hierarquia de prioridades de investimento, na forma de cuidado e dinheiro, em segurança, deverá ser esta:
uma bicicleta adequada ao nosso corpo (peso, altura, proporções) e aos percursos que fazemos (piso, orografia, clima, etc)
roupa e sapatos adequados à bicicleta, ao contexto dos percursos, e ao nosso nível de destreza
[serviço para] boa manutenção mecânica regular da bicicleta
luzes adequadas [de acordo com o Código da Estrada], e reflectores, na bicicleta
[aulas para] boa operação e bom controlo da bicicleta
Os itens acima servem para tentar reduzir a probabilidade de chegarem a acontecer quaisquer quedas ou colisões – segurança activa. Só depois vêm:
luvas
capacete (e joelheiras, cotoveleiras, whatever, para quem é particularmente descoordenado ou de constituição invulgarmente frágil e cai com frequência apesar dos pontos 1 a 7 acima…)
seguros de acidentes pessoais e de responsabilidade civil
Tal como manter a nossa bolha de segurança (algo que se aprende ao investir no ponto 6 da lista acima), estes itens (9 a 12) servem para tentar reduzir a gravidade dos danos físicos e/ou dos prejuízos financeiros das quedas e colisões que efectivamente aconteçam – segurança passiva. Nada fazem para evitar que essas quedas e colisões aconteçam – aliás, devido a fenómenos de compensação do risco (pelo próprio condutor da bicicleta e pelas outras pessoas com quem este se cruza), podem até aumentar a probabilidade das mesmas.
Como é que eu posso reduzir o meu risco a zero ou quase?
Posso investir em reduzir C, a gravidade das consequências, mas a minha capacidade para tal é bastante reduzida, os equipamentos de protecção têm grandes limitações, e os seguros não cobrem todos os prejuízos físicos, patrimoniais, morais e sociais associados a quedas e colisões relevantes, além de custarem algum dinheiro todos os anos, pelo que C nunca será zero nem nada próximo disso. Além disso, mesmo que tivesse todas as despesas pagas e a certeza de recuperar fisicamente sempre a 100 %, eu prefiro não ter que passar pela experiência de me magoar e de precisar de assistência médica, internamento hospitalar, etc, e independentemente de ser por culpa minha ou de terceiros… Por isso, a minha aposta é primeiro e principalmente reduzir P, que posso levar a um nível mais próximo de zero. Para tal tenho que me certificar que tenho um controlo adequado da bicicleta, tenho que aprender a identificar, avaliar e comparar riscos e a aplicar as estratégias adequadas cada situação. Tenho que saber que tipos de quedas e colisões ocorrem, compreender as suas causas e saber como as evitar.
Ainda é comum ver pessoas a circular à noite de bicicleta com capacete mas sem luzes [adequadas e eficazes].
Ainda é comum ver pessoas a circular à noite com coletes e n outros elementos reflectores mas sem luzes [adequadas e eficazes].
Ainda é comum ouvir pessoas todas equipadas com capacete, montes de luzes e reflectores diferentes, até 2 espelhos, e às vezes até muito boas bicicletas, queixarem-se das n quedas e colisões que já tiveram, e/ou dos frequentes sustos nas estradas e ciclovias, que nunca investiram o seu tempo e o seu dinheiro a perceber se há algo que esteja ao seu alcance fazer para reduzir tudo isso. Acreditarão que são totalmente impotentes para mudarem a sua experiência? Acreditarão que sabem tudo e que não têm nada de útil a aprender? Acreditarão que só os outros têm coisas para aprender?…
A prevenção é o melhor remédio, e a educação é o melhor caminho.
O risco associado a uma eventual queda ou colisão é uma função da probabilidade da mesma acontecer e, esta acontecendo, da gravidade das suas consequências. De forma simples:
Risco = [probabilidade de acontecer] x [gravidade das consequências]
Se eu tiver que saltar, ou algo me fizer cair, da varanda de um 5º andar as consequências serão letais. Mas eu posso adoptar medidas para reduzir a zero ou quase a probabilidade de eu me ver numa situação em que tenha que saltar, ou possa cair, de uma varanda do 5º andar, logo, o risco associado é residual. Ou então posso deixar de me preocupar com precauções para não me ver nessa situação e aceitar a possibilidade de vir a ter que saltar, ou cair, do 5º andar, mas antes colocar lá em baixo uma rede para me amparar a queda e reduzir de alguma forma as consequências da mesma. São ambas formas de reduzir o risco a que me exponho.
Aqui na escola, nas aulas de condução de bicicleta, treinamos os nossos alunos para reduzirem os riscos a que se expõem ao andar de bicicleta, focando-nos primordialmente na parte do “probabilidade de acontecer”, ou seja, desenvolvendo as competências necessárias para, antes de mais, evitar quedas e colisões, pois é a forma mais eficaz de reduzirmos o risco.
Contudo, as nossas chances podem ser melhoradas se além de adoptarmos comportamentos e estratégias que diminuem a probabilidade de uma queda ou colisão acontecer – primeira linha de defesa, adoptarmos também algumas medidas simples e acessíveis que minimizem as consequências de uma eventual queda ou colisão que não consigamos evitar – segunda linha de defesa.
Nas nossas aulas começamos por, logo no Nível 1, ensinar os alunos a assegurarem a todo o momento a sua “BOLHA DE SEGURANÇA“, um espaço em toda a sua volta que lhes permita:
1) tempo e espaço para passarem, oscilarem a sua trajectória, travarem ou se desviarem de obstáculos, sem colidirem com nada nem ninguém no processo, e
2) espaço desimpedido sobre o qual cair, caso uma queda seja inevitável.
Bolha de segurança, tipo isto, mas maior. 🙂
Sendo que o tamanho mínimo desta bolha é uma função da nossa velocidade (e/ou da de quem, ou daquilo, que por nós passa): quanto maior a velocidade, maior a bolha.
Enquanto condutora de um bicicleta (ou de qualquer outro veículo) eu posso:
1) escolher a rota que me oferece a maior bolha possível, e adequada à minha velocidade
2) se a rota preferida não assegurar a bolha de segurança mínima para a velocidade a que circulo, e não havendo rotas alternativas, adequar a minha velocidade ao tamanho possível da minha bolha.
E quanto mais pobres forem as minhas competências básicas de controlo da bicicleta e condução, maior terá que ser a minha bolha, e/ou mais devagar deverei circular, para compensar a minha inabilidade em identificar e detectar riscos, minimizá-los, e reagir com sucesso a eles.
Porque é que é importante reservar espaço para cair?
Porque cair no chão é diferente de cair sobre um lancil, um pilarete, um banco de jardim, etc. As consequências da queda serão provavelmente significativamente piores no segundo caso.
Isso leva-nos a uma terceira linha de defesa, que é: não transportar junto ao corpo objectos que, pela sua forma, volume, rigidez, e/ou localização, possam piorar as consequências de uma queda – como se transportássemos connosco um pilarete para depois cairmos sobre ele. 😉 Exemplos comuns para os condutores de bicicleta em contexto de transporte: chaves (ouch!), telemóveis, e cadeados:
What can go wrong? Bom, uma queda que poderia, de outra forma, não resultar em lesões de monta, pode resultar nisto, ou pior, se tivermos azar.
Por isso, é importante seleccionar criteriosamente os objectos que transportamos connosco junto ao corpo, seja em bolsos da roupa normal, seja pendurado de alguma forma, seja em bolsos dos jerseys, ou em mochilas. Manter a nossa bolha de segurança começa mesmo junto à pele.
A nossa última rubrica na Rádio Estrada Viva foi sobre a bicicleta eléctrica, ou melhor, sobre a bicicleta com assistência eléctrica. Querem saber o que são e como funcionam estas bicicletas, e o que podem fazer por vós?
Este podcast dá uma pequena introdução, a partir da minha própria utilização quotidiana de uma pedelec.