Ao conduzir uma bicicleta (bom, e qualquer outro veículo, de resto) há 5 tipos de olhares que temos que saber usar:

Olhar em frente

Parece tão óbvio, não é?

Se estou em movimento para a frente, é para aí que a minha atenção tem que ser dirigida, é aí que está o grosso do risco. É algures à frente que posso encontrar um buraco, uma lomba ou um objecto na estrada, um carro parado, carros e bicicletas e peões a cruzarem a estrada em que sigo, etc. Quanto maior a minha velocidade, menos tempo seguido me posso permitir não estar a ver o que se passa à minha frente. A 20 Km/h, percorro 5.55 m/s, ou seja, se deixar de olhar para a frente por 3 segundos, percorro 16.66 metros às cegas. Se forem 5 segundos, são quase 30 metros. Em 5 segundos e 30 metros podem surgir coisas “inesperadas”, como descobriu este senhor:

So my 1st ever driving lesson went really well even though some crazy guy cycled into the back of me when I was parked …For licensing and usage, contact:

Posted by Edward Barlow on Wednesday, May 27, 2015

Posted by Edward Barlow on Wednesday, May 27, 2015

E lembrem-se que olhar e ver são coisas diferentes. Posso estar a olhar para a frente mas estar distraída, os meus olhos podem ter visto, mas o meu cérebro não, como já tivémos oportunidade de discutir aqui no blog.

Este olhar é logo ensinado a partir da primeira aula de condução de Nível 1 na nossa escola.

Olhar para trás

Olhadela

Menos de 1 segundo. Olhar ligeiramente e de uma vez, feito regularmente, tipo de 10 em 10 segundos (mais se for um contexto rodoviário / de tráfego mais simples). Coordenado com a audição. Serve para manter, a todo o momento, uma ideia geral do tráfego à nossa volta: quantos veículos, de que tipo, em que posição, qual a velocidade, etc, permitindo preparar melhor as nossas manobras e antecipar riscos. É aqui que os espelhos retrovisores são extremamente úteis, pois permitem fazer isto sem deixar de ter visibilidade do que está em frente. O meu espelho preferido fixa-se na haste dos óculos, permitindo-me uma grande amplitude de ângulos de visão, sem ter que baixar o olhar para o nível do guiador.

Olhar

1-2 segundos de cada vez. Serve para captar uma imagem clara do que se passa atrás de nós, para podermos decidir as manobras que realizamos, quando e como. Um espelho retrovisor ajuda mas não substitui totalmente, pois tem sempre ângulos mortos e alguma distorção da imagem. Ao mudar de direcção é sempre necessário olhar directamente para trás a dado ponto do processo.

Mirada

2-3 segundos de cada vez. Fitar os olhos em algo, nomeadamente, nos olhos do condutor de determinado veículo. Isto é importante em situações em que precisamos de negociar uma mudança de via, por exemplo, mas também em cruzamentos em que é importante avaliar e tentar garantir que 1) o outro condutor nos detectou e 2) nos vai ceder passagem.

Estas três variantes do olhar para trás são abordadas e desenvolvidas ao longo dos Níveis 1.1 e 1.2 – adaptação à bicicleta, das nossas aulas de condução.

Olhadela salva-vidas

É aquele olhar pelo canto do olho e por cima do ombro imediatamente antes de arrancarmos, abrandarmos subitamente, ou mudarmos de direcção. É o que nos salva (literalmente, daí o nome), de erros cometidos por terceiros (ou mesmo por nós próprios), como este (aviso: contém imagens de uma colisão do tipo ‘sideswipe‘):

Viram que o condutor da bicicleta sinalizou a mudança de via? Mas falhou o olhar para trás e ver se era efectivamente seguro fazê-lo. É claro como a água que a culpa da colisão foi do condutor do camião, mas estava ao alcance do condutor da bicicleta evitá-la de qualquer modo. A culpa ser do outro não anula o facto de quem se magoou foi o ciclista. É sempre melhor evitar uma visita ao hospital do que estar depois a discutir com seguradoras quem é que teve a culpa.

Ensinamos este tipo de olhar no Nível 2 – adaptação ao meio.

Só é possível executar todos estes olhares depois de adquirido um bom controlo da bicicleta, claro. De outra forma o olhar para trás pode afectar dramaticamente a trajectória da bicicleta, podendo levar a quedas e colisões, ou simplesmente ser um “olhar sem ver”.