Em países onde há um grande uso da bicicleta no quotidiano, há muita gente a ser admitida nos hospitais devido a quedas e colisões de bicicleta a solo, o que tem começado a chamar a atenção para se estudar as causas disto. Na Holanda, por exemplo, estima-se que 90 % das lesões sofridas por utilizadores de bicicleta e 25 % das fatalidades neste grupo, resultam de quedas e colisões de bicicleta que não envolvem veículos motorizados.

Normalmente estes incidentes a solo subdividem-se em quedas e colisões:

  1. relacionados com a infraestrutura
  2. relacionados com o condutor da bicicleta; perda de controlo
  3. relacionados com falha mecânica da bicicleta

É por isto que nas aulas de condução que damos na Escola de Bicicleta da Cenas a Pedal temos o Nível 1 – adaptação à bicicleta, e o Nível 2 – adaptação ao meio. Para conseguirmos evitar quedas, primeiro, e conseguir que as que ocorrem não sejam graves, é importante saber controlar a bicicleta mas também é importante saber reconhecer os riscos das infraestruturas e minimizá-los com estratégias adequadas. A ideia das aulas de bicicleta de regularidade, ao longo do ano, serve também um propósito fundamental que é o do treino de regularidade, algo que faz a diferença na probabilidade de uma pessoa se envolver numa queda ou colisão, segundo os estudos (como este).

Andar de bicicleta, para transporte ou lazer é uma actividade com imensos benefícios e vantagens para quem o faz, os riscos associados existem mas podem ser facilmente minimizados, basta estudar e praticar! Nós estamos cá para facilitar isso mesmo.

Agora, aqui fica um apanhado simples de algumas formas mais populares de cair de bicicleta.

1. Pedalar numa curva 

Ao inclinar a bicicleta numa curva, o pedal do lado de dentro da curva fica mais perto do chão e há o risco de raspar nele, o que pode causar um sobressalto que leve à perda de controlo da bicicleta.

2. Pedalar bem encostadinho ao lancil do passeio

Pedalar junto a um lancil alto torna possível batermos com o pedal no mesmo, o que afecta a trajectória e equilíbrio da bicicleta, podendo levar à perda de controlo da mesma. Quem diz lancil diz, pedras, delimitadores e barreiras rasteiros diversos.

3. Circular próximo de lancis 

Tudo o que seja um obstáculo longitudinal na faixa de rodagem pode causar uma queda do tipo “diversion“. Os baixinhos são os piores porque não nos apercebemos sequer deles:

Mas os grandes, que sabemos perfeitamente que estão lá, também nos podem fazer cair se circularmos tão perto que não deixemos espaço para pequenas oscilações:

O ciclista do vídeo anterior teve sorte, ia relativamente devagar e teve bons reflexos. O mesmo não aconteceu no caso seguinte:

4. Passar por cima de poças de água à confiança

Uma poça de água pode esconder facilmente a configuração do buraco onde a água se acumulou. Às vezes é só uma concavidade no piso, outras vezes é mesmo um buraco. De notar que no inverno surgem buracos de um dia para o outro.

Um buraco (ainda mais com o atrito adicional da água nele acumulada) pode parar subitamente a roda da frente e atirar-nos por cima do guiador, como neste exemplo:

5. Circular próximo de muros, vedações ou sebes altas

Este é um fenómeno curioso, que já conhecemos bem, mas cuja base científica ainda não investigámos a fundo, embora tudo indique que tenha a ver com a nossa visão periférica e o seu papel no equilíbrio e na navegação espacial. O que sabemos é que quando as pessoas circulam próximo de objectos contínuos altos, a dada altura têm o reflexo de se agarrarem aos mesmos, largando o guiador da bicicleta. Dependendo da velocidade, de como se agarram, etc, isto pode dar direito a algumas mazelas, embora normalmente não seja nada de especial.

Mas o grande risco não é o reflexo que descrevi atrás, mas sim a possibilidade de o guiador da bicicleta tocar nesse muro/sebe/etc, ou mesmo pilarete alto, o que causa uma queda imediata. Isto é algo que também acontece em passeios de grupo, quando nos chegamos demasiado perto, de lado, de outro ciclista (ver este exemplo).

6. Curvar demasiado e/ou travar sobre piso sem aderência

A tinta das passadeiras e das outras marcações rodoviárias, as tampas de esgoto, os carris de eléctrico, o asfalto com óleo, alguns tipos de pavimento (pedra da calçada, e outras, etc) ou com gravilha, areia, ou folhas, são coisas onde os pneus das bicicletas facilmente escorregam, principalmente em dias de chuva!

Folhas…

Tampas metálicas…

Pavimentos escorregadios…

7. Transpôr carris de eléctrico (quase) longitudinalmente

Os carris de eléctrico podem causar quedas ao prender a roda da frente, o que nos lança imediatamente ao chão. Mas mesmo sem a roda entrar no carril, se este estiver ligeiramente sobreelevado do pavimento, funciona como um lancil, e causa uma queda à mesma se nos aproximarmos dele ou o transpusermos quase longitudinalmente.

Ou assim.

8. Circular na zona das sarjetas

Circular encostado à direita tem imensos custos em termos de segurança, uns são mais fáceis de compreender que outros, mas este parece-me bastante óbvio: na berma das estradas é onde geralmente se colocam as sarjetas, e muitas vezes as grades das mesmas são longitudinais e capazes de engolir a roda dianteira da bicicleta, o que causa uma queda por paragem súbita desta, e a inércia atira o ciclista por cima do guiador.

Quem diz sarjetas diz qualquer defeito ou obstáculo no pavimento que possa afectar o movimento da roda dianteira, nomeadamente buracos, fissuras, cristas, etc.

9. Passar por cima de marcadores rodoviários

Passar por cima do que por cá se chamam muitas vezes “olhos-de-gato”, pode facilmente causar uma queda, principalmente se não estivermos à espera desse obstáculo, e se não tivermos muito bons reflexos e controlo da bicicleta:

Há n tipos de marcadores elevados (exemplos aqui), e geralmente constituem um perigo para utilizadores de bicicletas, ao afectar a estabilidade das mesmas.

10. Subir lancis sem levantar a roda da frente no momento certo

Um lancil (ou qualquer outro objecto imóvel no caminho) alto o suficiente, quando encarado de frente, muitas vezes causa uma queda imediata – pára a roda dianteira e atira o ciclista por cima do guiador. A única forma de isto não acontecer é o condutor da bicicleta fazer a roda dianteira saltar por cima desse lancil ou obstáculo no momento certo – nem antes, nem depois. O ciclista do vídeo abaixo fez a roda saltar, mas cedo demais:

11. Deixar peças de roupa prenderem-se nas rodas

Tirar o casaco em andamento, por exemplo, pode levar a uma situação destas. Quem diz casacos diz usar saias ou casacos ou cachecóis ou lenços compridos. Transportar sacos de compras no guiador também causa quedas deste género, quando os itens no saco chegam à roda e a bloqueiam.


Uma amostra de coisas para não fazer, que tivémos a sorte de encontrar registadas em vídeo. Nas nossas aulas de Nível 2 temos diversas oportunidades para demonstrar e treinar com os nossos alunos o que fazer em vez disto.

Na Escola de Bicicleta da Cenas a Pedal ensinamos os nossos alunos a evitar quedas como as 11 aqui referidas. Os alunos aprendem a:

  1. reconhecer riscos
  2. aplicar estratégias adequadas para evitar ou reduzir esses riscos
  3. controlar com sucesso a bicicleta em situações complicadas

Os conceitos de bolha de segurança, da importância de olhar e de ver, são conceitos patentes n’as 4 regras de uma condução segura e que são instilados nos nossos alunos desde a primeira aula, para que a probabilidade de algum dia haver um vídeo destes com eles como protagonistas, seja mais reduzida. 😉