Quando as pessoas ingressam na nossa escola no Nível 1.0 e lhes perguntamos quais os seus objectivos de curto e médio prazo, muitas vezes dizem-nos que lhes bastará concluir o Nível 1, de adaptação à bicicleta, pois só pretendem dar uns passeios, vão andar “apenas em ciclovias”, não pretendem ir para a estrada (algo que um principiante normalmente considera muito avançado e/ou perigoso).

Esta ideia de que andar de bicicleta em ciclovias exige menos competências e conhecimentos do que andar em estrada, e de que mesmo sem essas competências e conhecimentos é ainda assim mais seguro, é uma ideia extremamente comum. É, contudo, uma ideia totalmente errada, e muito perigosa (não me posso precaver de riscos que não detectei sequer, ou que não compreendo ainda).

Tipos de condução e riscos

Fonte: I Am Traffic

Por isso, na escola, esforçamo-nos por conseguir levar todos os alunos a completar pelo menos o Nível 2, de adaptação ao meio, do nosso programa de formação em condução de bicicleta, para assegurar que levam da escola as ferramentas básicas que os ajudarão a maximizar a sua própria segurança.

Uma ciclovia ou ciclofaixa portuguesa típica é totalmente o oposto de uma “autoestrada para bicicletas”. E este post no Facebook da ANSR, sobre a segurança das autoestradas, ajuda a perceber melhor isso:

Auto-estradas são mais seguras

É fácil, usando estes argumentos acima como ponto de partida, perceber os factores que tornam as ciclovias, e as ciclofaixas – principalmente as bidireccionais ou assim usadas – implementadas na malha urbana, mais perigosas do que as estradas.

A ciclovia urbana portuguesa é, por definição, a via mais perigosa no meio rodoviário. Porquê?

  • possui cruzamentos de nível, maioritariamente não-semaforizados, e geralmente com lancis
  • possui muitos atravessamentos de peões
  • possui apenas 1 via de trânsito em cada sentido, e extremamente estreitas, dificultando ou até inviabilizando ultrapassagens seguras
  • autoriza, e por vezes até incentiva ou obriga mesmo, o trânsito de peões
  • não possui entradas e saídas, ou estas são por via de degraus e sem ligação lógica e segura à estrada e/ou mesmo aos passeios

Além disto, poderemos ainda adicionar:

  • os cruzamentos são mais complexos, criando ângulos mortos
  • não têm margens de segurança
  • têm muitos pontos e curvas cegas
  • frequentemente são ladeadas – sem margem de segurança –  por objectos capazes de causar ferimentos sérios em caso de queda: ex.: pilaretes, ou até mesmo capazes de provocar uma queda: lancis, delimitadores em betão, olhos de gato, etc
  • raramente são bem iluminadas
  • os pavimentos são muitas vezes irregulares, mal mantidos (buracos, folhas caídas, água, etc), escorregadios (ex.: calçada)
  • etc, etc

Claro que uma faixa de rodagem ou uma via de trânsito onde não circulem automóveis será mais agradável e mais confortável pela ausência de desse elemento ameaçador, ou pelo seu distanciamento. Mas uma coisa é conforto, outra é segurança, e devemos saber distinguir as duas coisas.

Algumas ciclovias, em determinadas circunstâncias, são alternativas úteis ou simplesmente apelativas. É importante saber reconhecer quando é que determinada ciclovia, em determinada deslocação, é a melhor opção para nós e quando é que não é. E é fundamental conhecer os riscos específicos das ciclovias e como os minimizar com a nossa condução, de forma a podermos tirar o melhor partido destas infraestruturas, sempre que nos convier, sem nos expormos desnecessariamente a riscos acrescidos.

Não basta aprendermos a andar de bicicleta, é fundamental aprendermos a conduzir!