Escola de Bicicleta

mobilidade & recreio

Aprender a andar de bicicleta nas férias da Páscoa

As férias da Páscoa estão quase a chegar! Para miúdos e graúdos poderem aproveitar esta pausa para concentrarem umas quantas aulas de bicicleta, seja para aprender do zero, fazer uma reciclagem e aprender a conduzir nas ruas e ciclovias, temos previstos cursos intensivos (atenção, período de pré-inscrições termina já dia 9 de Março!):

CONDUÇÃO NÍVEL 1 – adaptação à bicicleta | adultos, jovens & crianças a partir dos 6 anos (turmas mistas, ou turmas de crianças + turmas de adultos, se o número de alunos o permitir)

DATAS & HORÁRIOS: edição pré-Páscoa a 21, 22, 23 e 24 de Março (2ª a 5ª-feira) das 9h30 às 12h, e edição pós-Páscoa a 28, 29, 30 e 31 de Março e 1 de Abril (2ª a 6ª-feira) das 9h30 às 11h30
LOCAL: Clube Atlético de Campo de Ourique (pavilhão coberto e fechado) – se as condições climatéricas o permitirem, 1 a 2 aulas poderão ser dadas no Jardim da Estrela).
PREÇO: 155 € (+ taxa de inscrição ou renovação anual na escola: 45 € adultos, 25 € crianças, para quem não está ainda inscrito este ano)

CONDUÇÃO NÍVEL 2 – adaptação ao meio | adultos & jovens a partir dos 12 anos

DATAS & HORÁRIOS: edição pré-Páscoa a 21, 22, 23 e 24 de Março (2ª a 5ª-feira) das 9h30 às 12h, e edição pós-Páscoa a 28, 29, 30 e 31 de Março e 1 de Abril (2ª a 6ª-feira) das 18h30 às 20h30
LOCAL: diferentes locais em Lisboa.
PREÇO: 155 € (+ taxa de inscrição ou renovação anual na escola: 45 € adultos, 25 € crianças, para quem não está ainda inscrito este ano)

Descontos de 5 a 15 % para grupos.

Vagas muito limitadas, não percam a vossa!

Pré-inscrições: 29 de Fevereiro a 9 de Março, aqui.

Inscrições (confirmação da pré-inscrição com o pagamento): 10 a 17 de Março.

Investir na segurança: por onde começar?

montana-raftingVamos assumir que decidi ir fazer rafting, como guia.

O que acontece se me lançar à água no insuflável sem primeiro ter aprendido como conduzir a embarcação em segurança? Se calhar isso não é absolutamente necessário, desde que use um colete salva-vidas e um capacete, estou segura, não? E não deve haver problema se eu não souber nadar, desde que tenha o colete salva-vidas e um seguro, está tudo OK, certo?

Não.

Para sermos capazes de tomar decisões acerca de segurança, temos que primeiro compreender a noção de risco.

De uma forma simplificada, esta é a equação do risco:

Risco [R] = probabilidade de acontecer [P] x severidade das consequências se acontecer [C]

A segurança activa actua na probabilidade, a segurança passiva actua nas consequências.

No que à utilização da bicicleta diz respeito, a hierarquia de prioridades de investimento, na forma de cuidado e dinheiro, em segurança, deverá ser esta:

  1. uma bicicleta adequada ao nosso corpo (peso, altura, proporções) e aos percursos que fazemos (piso, orografia, clima, etc)
  2. roupa e sapatos adequados à bicicleta, ao contexto dos percursos, e ao nosso nível de destreza
  3. [serviço para] boa manutenção mecânica regular da bicicleta
  4. luzes adequadas [de acordo com o Código da Estrada], e reflectores, na bicicleta
  5. [aulas para] boa operação e bom controlo da bicicleta
  6. [aulas para] condução segura de bicicleta (não basta conhecer o CE)
  7. óculos
  8. vestuário/acessórios reflectores

Os itens acima servem para tentar reduzir a probabilidade de chegarem a acontecer quaisquer quedas ou colisões – segurança activa. Só depois vêm:

  1. luvas
  2. capacete (e joelheiras, cotoveleiras, whatever, para quem é particularmente descoordenado ou de constituição invulgarmente frágil e cai com frequência apesar dos pontos 1 a 7 acima…)
  3. cenas como esta
  4. seguros de acidentes pessoais e de responsabilidade civil

Tal como manter a nossa bolha de segurança (algo que se aprende ao investir no ponto 6 da lista acima), estes itens (9 a 12) servem para tentar reduzir a gravidade dos danos físicos e/ou dos prejuízos financeiros das quedas e colisões que efectivamente aconteçam – segurança passiva. Nada fazem para evitar que essas quedas e colisões aconteçam – aliás, devido a fenómenos de compensação do risco (pelo próprio condutor da bicicleta e pelas outras pessoas com quem este se cruza), podem até aumentar a probabilidade das mesmas.

Como é que eu posso reduzir o meu risco a zero ou quase?

risco

Posso investir em reduzir C, a gravidade das consequências, mas a minha capacidade para tal é bastante reduzida, os equipamentos de protecção têm grandes limitações, e os seguros não cobrem todos os prejuízos físicos, patrimoniais, morais e sociais associados a quedas e colisões relevantes, além de custarem algum dinheiro todos os anos, pelo que C nunca será zero nem nada próximo disso. Além disso, mesmo que tivesse todas as despesas pagas e a certeza de recuperar fisicamente sempre a 100 %, eu prefiro não ter que passar pela experiência de me magoar e de precisar de assistência médica, internamento hospitalar, etc, e independentemente de ser por culpa minha ou de terceiros… Por isso, a minha aposta é primeiro e principalmente reduzir P, que posso levar a um nível mais próximo de zero. Para tal tenho que me certificar que tenho um controlo adequado da bicicleta, tenho que aprender a identificar, avaliar e comparar riscos e a aplicar as estratégias adequadas cada situação. Tenho que saber que tipos de quedas e colisões ocorrem, compreender as suas causas e saber como as evitar.

bicycle-lights_590_360_80_all_10Ainda é comum ver pessoas a circular à noite de bicicleta com capacete mas sem luzes [adequadas e eficazes].

Ainda é comum ver pessoas a circular à noite com coletes e n outros elementos reflectores mas sem luzes [adequadas e eficazes].

Ainda é comum ouvir pessoas todas equipadas com capacete, montes de luzes e reflectores diferentes, até 2 espelhos, e às vezes até muito boas bicicletas, queixarem-se das n quedas e colisões que já tiveram, e/ou dos frequentes sustos nas estradas e ciclovias, que nunca investiram o seu tempo e o seu dinheiro a perceber se há algo que esteja ao seu alcance fazer para reduzir tudo isso. Acreditarão que são totalmente impotentes para mudarem a sua experiência? Acreditarão que sabem tudo e que não têm nada de útil a aprender? Acreditarão que só os outros têm coisas para aprender?…

A prevenção é o melhor remédio, e a educação é o melhor caminho.

Conhecer o Código da Estrada não é suficiente

Em 2006-2007 começámos a interessar-nos particularmente por responder a esta pergunta:

Como podemos melhorar a nossa experiência a usar a bicicleta para nos deslocarmos nas nossas estradas?”

Foi quando decidimos analisar o Código da Estrada, e o que este dizia sobre a circulação de bicicletas. Pensámos que colmatar a nossa ignorância nessa área poderia ajudar-nos a conduzir melhor, a tornar a experiência mais confortável, mais segura, mais eficiente.

Esse trabalho culminou na publicação em 2007 d’”O CÓDIGO DA ESTRADA E OS VELOCÍPEDES – Perguntas Frequentes, e levou a que nos envolvêssemos em esforços para corrigir e melhorar o CE. Quando, em 2013, o Governo se propôs a alterá-lo, fizémos lobbying, no âmbito da MUBi, para corrigir as propostas. Tive, nomeadamente, a oportunidade de ir à Assembleia da República explicar a necessidades dessas mesmas correcções.

Em 2014 entrou em vigor uma nova redacção do Código da Estrada, bastante melhorada para os condutores de bicicleta, mesmo que ainda não perfeita.

Ao mesmo tempo que desenvolvíamos esta análise do CE, descobrimos logo no início que simplesmente conhecê-lo não nos ensinava a conduzir bem uma bicicleta, principalmente num meio em que a maior parte dos condutores de automóvel também não sabe (ou não cumpre) o que o CE diz acerca de como interagir com condutores de bicicleta. Começámos, por isso, a estudar a melhor forma de conduzir. Foi isso que nos levou a procurar um curso de instrutores de condução de bicicleta, que fizémos em 2008, e começar a ensinar outros, na nossa escola.

Por um mero acaso, no outro dia fui dar a este vídeo antigo, de início de 2007, onde ilustrávamos o estacionamento ilegal sobre uma ciclovia na marina de Albufeira:

É o que se chama um “tesourinho deprimente“. 🙂 Mas extremamente útil. Ali está, bem documentado, o “antes”, do “antes e depois de aprender a conduzir”.

Hoje agiríamos de forma muito diferente daquela registada no vídeo acima. (E não perderíamos tempo a documentar o desrespeito de outros por uma infraestrutura que é, à partida, um desrespeito para quem nela circule – só aprendemos isso depois também.)

Saber conduzir envolve 4 competências chave:

  1. saber operar o veículo
  2. conhecer o protocolo de circulação oficial
  3. conhecer o protocolo de circulação não-oficial
  4. saber identificar e gerir riscos

O Código da Estrada é o protocolo oficial. A práxis é o protocolo não-oficial. Um sítio perfeito para perceber a diferença entre os dois é nas rotundas, onde estes dois protocolos estão muito desfazados.

Mais recentemente, temos tido a oportunidade de conversar com algumas instituições de ensino superior que se encontram a desenvolver candidaturas, ou a ponderar fazê-lo, ao projecto U-BIKE Portugal, um projecto para promover a introdução de bicicletas nos campi universitários, por meio de um sistema de empréstimos de longa duração. O regulamento deste projecto é bastante detalhado no que concerne às especificações das bicicletas a fornecer, contudo presta muito pouca atenção à parte das acções de comunicação e formação. Consequentemente, é comum as instituições pensarem inicialmente em lançar-se à candidatura prevendo pouco mais do que transmitir aos futuros utilizadores das bicicletas os principais artigos relevantes do Código da Estrada, pensando que isso será suficiente. Temo-nos esforçado por tentar desfazer esse equívoco a tempo.

Assegurar o ponto 2, acima, é importante mas não é suficiente. Para circular de bicicleta em meios com um nível de tráfego relevante, é preciso aprender a conduzir. Não o fazer leva a repetidas más experiências, quando não mesmo a quedas e colisões efectivas – tudo coisas que podem, naturalmente, levar as pessoas a desistir de usar a bicicleta em determinados percursos ou mesmo desistir de a usar de todo.

O sucesso do U-BIKE, em particular, mas de qualquer outra iniciativa de promoção de uma mobilidade mais sustentável centrada na bicicleta, depende das pessoas aderirem, não desistirem, e trocarem o máximo possível de quilómetros feitos de carro por quilómetros em bicicleta. Negligenciar a parte da motivação, capacitação e formação é um erro crasso que afectará o potencial deste projecto, como tem afectado inúmeras outras iniciativas.

E de notar que isto não tem só a ver com circular de bicicleta em ruas com automóveis. Mesmo em locais onde há muitas bicicletas e onde os automóveis são bastante segregados, não saber conduzir leva a colisões entre bicicletas e bicicletas e peões.

É fundamental disponibilizar às pessoas a oportunidade de melhorarem a sua compreensão do contexto rodoviário e a sua navegação no mesmo. Não basta distribuir informação sobre a legislação (disponível online aqui, aqui e aqui, por exemplo). E não bastam palestras, é fundamental haver sessões práticas complementares. Entretanto, enquanto quem o poderia fazer não o faz, resta aos utilizadores tomarem a iniciativa e instruírem-se como puderem, recorrendo a livros e sites estrangeiros, alguns recursos nacionais como o nosso blog e outros (ver Planeta Bicicultura) e/ou procurando as nossas aulas.

Uma bicicleta para dois?

Por que não? 🙂

Quem nunca tentou fazer isso…, se não tentou vai tentar agora. 😀 rsrsrs

Posted by BMX & MTB De Pelotas on Monday, January 11, 2016